Ponto - pon-to: Sinal, marca ou mancha de dimensão mínima e formato arrendondado; pingo; pinta; furo feito com agulha enfiada em qualquer tecido; pedaço de linha que fica entre dois furos de agulha; matéria, assunto em disciplina escolar; sinal semelhante ao que deixa uma picada de agulha; pequeno adesivo que une bordas de ferida ou veda o sangue; limite ou intersecção de linhas; a extensão em abstrato, sem dimensões; sítio, passagem, lugar determinado, local; estado de questão; sinal de pontuação com que se encerra período; sinal usada em abreviaturas (ponto abreviativo) e sobre o “i” e o “j”; cada uma das pintas nas faces dos dados ou nas cartas do jogo, indicativas do respectivo valor; fim, termo; tempo marcado, ensejo; conjuntura; livro em que se marcam as faltas; grau ideal de cozimento de um alimento; grau na escala de medidas; ...
É. Parece que o ponto significa mesmo um tanto de coisas. Não é só um sinal de pontuação. É o ponto que encerra ciclos e abre espaço pra que outros se iniciem. É só o ponto que sabe a hora de parar e, portanto, a de começar. É ele que faz com que a gente entenda tudo. Ele permite que vivamos tudo o que existe antes dele intensamente, mas nos lembra que tem hora marcada pra acabar. Mas quem foi que disse que tempo limitado é ruim? Sinceramente, se a gente soubesse a hora das coisas terminarem tudo ficaria muito mais bonito na memória. As lembranças amargas dariam lugar apenas as doces recordações, registradas em retratos silenciosos que pra sempre farão sorrir. É o ponto (e não a vírgula, como dizem) que nos dá a paz, o descanso, a tranqüilidade. Que nos faz pensar e entender que nada, absolutamente nada, é por acaso. E que toda frase é bendita e bem dita. A vírgula é simplesmente um sinal de pontuação que pausa tudo por tempo determinado. Mas o ponto, esse sim tem o poder de determinar o tempo das coisas com sabedoria. Nada termina antes do fim, e isso é extremamente consolador. Não precisamos sofrer muito se entendermos que pontos sempre vêm para o bem. Se entendermos que é assim mesmo em toda parte: as pessoas chegam, as frases começam com uma alegre letra maiúscula, as pessoas nos conquistam, a frase começa a ganhar sentido, nos sentimos felizes por tê-las ao nosso lado e é exatamente nessa hora que elas se vão e o ponto, aquele cruel e insensível, entra em ação. É justamente no ápice. Pra ficar eterno sem ser infinito. É assim mesmo que tem que ser. O ponto propõe o desapego, simplifica tudo, divide tudo igualmente, sem complicar. O ponto mata todas as noites reticentes e todas as exclamações desenfreadas, mas nos traz a consciente realidade que, de um jeito ou de outro, manda todo dia na vida da gente.
O ruim é que só aprendemos a ser ponto bem mais tarde. Confesso que ainda não aprendi. Ainda me perco em todas as possibilidades das reticências, em toda euforia da exclamação, em toda insegurança da interrogação, em todo o receio da vírgula e em toda entrelinha dessa pontuação. Ainda acho muito difícil que tudo exista sem maiores detalhes, sem muitas emoções. Ainda acho difícil virar as costas e passar de palavra pra ponto assim, sem chorar um pouco. Ainda acho difícil colocar algum limite no meu coração, logo nele, que nunca teve freios ou controlar sentimentos e me posicionar fria e indiferente a tudo atrás de mim. Acho, digamos impossível, deixar de lado toda minha sensibilidade que me liberta e aprisiona incontestavelmente a troco de um fim, ainda que este seja a minha única saída. Eu gosto das saídas que não existem. Eu gosto de tudo o que não existe e me apaixono facilmente por pessoas que não conheço, é esse o meu castigo. Quero sempre mais de tudo do que o tudo pode me oferecer e não termino nunca. Minha frase é infinita, sempre foi. Meu coração é permeável, transparente, sonhador e até tem asas, mas não é resistente à quase nada. Eu literalmente não sei e até me recuso a resistir. Me recuso a ser forte o suficiente pra impor um final àquilo que eu não quero que seja finito. Não quero um ponto que me limite, sufoque, aprisione. Quero ter o direito de não saber o que dizer... De não saber o que sentir!!! Ou de simplesmente não saber? É. Me permito ser frágil e bagunçar tudo dentro de mim pra só arrumar quando for preciso. (É que eu tenho fases.)
E o que eu desejo nesse momento, pra mim e pra você, leitor, é que a gente saiba o ponto certo pra usar. A nossa vida é feita de escolhas, isso todo mundo sabe. Ou diz que sabe. Mas pouca gente sabe escolher direito. E nem deve. Acho que os erros são sim, construtivos quando o errante realmente quer aprender com eles. Mas que hoje, a gente consiga parar pra pensar e decidir com que ponto estamos. Com que ponto vamos. Pra nos assumirmos por inteiro, seja como for. Porque se assumir é a maior delícia à que temos direito.
Hoje eu vou assim!