segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A ARTE DE CONTAR ATÉ DEZ

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Uma ofensa. Uma calúnia. Uma bobagem. Ou seja lá o que for. Saber ou não contar até dez promete ser o critério do século XXI para a seleção natural proposta por Darwin. Para sobreviver, é imprescindível saber contar (e resistir).

Paciência. É isso que o mundo exige que tenhamos. Dizer que é preciso que todos saibam onde termina seu espaço e começa o do outro é clichê. Eu sei. Mas como não repetir? A gente insiste em não entender. Em invadir. Em se intrometer. E em obrigar os outros à nossa volta a contarem até dez, cem ou mil.

Do que será que precisamos? Que palavra, afinal, está faltando no nosso dicionário? Respeito. Bom senso. Percepção. Sensibilidade. Compreensão. Limite. Ou tudo isso junto, em um pacote só.

E quais são, afinal, os nossos infernos? O trânsito. A poluição. A intriga. A rotina. A correria. As obrigações. As distrações da vida moderna que mais nos tomam tempo do que, de fato, facilitam nosso dia a dia. E ele: o próprio dia a dia. A monotonia.

E o que, na realidade, queremos alcançar? Um pouco de paz. Tempo pra ouvir nossas trilhas sonoras, tão minuciosamente separadas por nós conforme nossas lembranças mais bonitas. Sensibilidade para ler e interpretar poemas cujo conteúdo não está escancarado nas linhas. Serenidade para ouvir o que todo mundo tem a dizer. Sabedoria para distinguir o que é e o que não é pertinente. Tranquilidade para falar pausado. Flexibilidade para aceitar e compreender o que é diferente. Amor, para que a vida nunca perca o seu sentido vital.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NAS ASAS DO TEMPO


Ele, um espírito jovem encapado em um corpo conservado que remetia a não mais do que quarenta e poucos anos. Algum tempo atrás, recebeu um convite dos antigos colegas de faculdade para uma confraternização. Aceitou. Ficou feliz por poder reencontrar os amigos da turma de 73 que, certamente, haviam se transformado em biólogos de sucesso.

Por ter sobrevivido aos próprios aniversários com uma alegria intacta, com o mesmo corpo magro e com aqueles cabelos pretos e cacheados, havia se esquecido do tempo que passara. Ele sequer imaginava o quanto os anos teriam sido capazes de transformar a vida daqueles que, em 73, foram os maiores personagens da sua história. Chegando lá, o espanto.

A Betinha, sua paixonite, já não era digna do apelido no diminutivo. Estava, de fato, alguns quilos acima do peso. Já não era tão delicada quanto antes. E já tinha netos. Seu melhor amigo, o Carlos, agora era professor de biologia na maior universidade do país. O tempo e a genética se encarregaram de trocar seus admiráveis cabelos compridos por uma calvície natural.

Naquele momento, ele soube que a única coisa que permaneceu comum entre eles foi a Biologia. Tirando isso, todo o resto foi deixado de lado pelas próprias circunstâncias da vida, contra as quais é impossível lutar. A paixão pelo rock, os discos de sucesso da década de 70, a sede da vida, as farras na república, as noites de festa. O destino tratou de revirar tudo com plena excelência. Eram todos biólogos, mas não eram mais amigos.

João Guimarães Rosa disse, um dia, que “o correr da vida embrulha tudo”. E como um presente muito bem embrulhado, o futuro nos é entregue sem possibilidade de devolução. Isso não faz de nós meros expectadores de um destino previamente elaborado, mas nos deixa susceptíveis às mudanças que os anos trarão.

É importante que se tenha uma grande certeza: daqui a alguns anos, quase tudo será diferente. Cabe a nós escolher o que há de mais bonito e sincero e (tentar) manter aceso, nem que seja apenas dentro de nós.

Por sorte, Carlos Drummond resolveu dizer que “as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”. Ainda não foi inventada uma maneira de retardar o tempo, retornar ao passado ou congelar os segundos mais belos. Mas sim: é possível guardar na vida, no coração e na memória aquilo que compõe a melhor parte de nós.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

UM MIMO

para ver a ilustração em tamanho maior, clique sobre ela.

Aí estou eu e tudo o que me pertence. É incrível ser observada e descrita através de ilustrações que chegam a dizer mais do que dezenas de palavras. É lindo ver que, nesses traços, tudo foi minuciosamente pensado, pra que as cores do desenho fossem exatamente as minhas cores. E foram. É indescritível me ver por outros olhos.

Divido a alegria de receber esse presente com todos os leitores do blog. Ao talentoso Felipe Sakae, muito obrigada por esse "mimo". O Bate-Coração agradece. Tum tum.

Para conhecer o trabalho do Felipe, entre no flickr