quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

QUANDO O FIM PARECE O MEIO

Hoje pensei, pensei e não encontrei solução alguma para essa história mal contada de você sem mim. Aposto que isso tudo não passa de um erro de digitação. Eu sempre soube que seria melhor se a gente estivesse escrevendo essa nossa história à mão e em papel de seda. Mas não dá, não dá. Estamos fazendo uma teia nesse mapa. Daqui a pouco não sobra mais nenhum continente para contar história. Ou para contar a nossa história. Será que alguém vai mesmo contar? Será que a gente vai mesmo contar?

O tempo se arrastou. A rotina de feriado prolongado me emudeceu. Hoje o sol nem mesmo pôde se mostrar. Os ponteiros pareciam recusar qualquer movimento. Nem mesmo a poesia fez o tempo rolar. Nem mesmo as canções de inverno. Nem as melhores amigas. Nem o silêncio. Nem o sono. As horas se negam a passar em cor. Estou toda errada. Estou em preto e branco. Não escrevo em versos porque sei que hoje não vou rimar.

Às vezes penso: que sorte a nossa de terem tido essa idéia genial de encurtar as distâncias. O longe está tão perto! E o perto está longe, longe, tão longe que já nem se vê. Você também não me vê. Nem eu te vejo. Mas ainda assim, a gente sente. Só sente. Em algum momento, alguém disse que “o que os olhos não vêem o coração não sente”. Será mesmo assim? Não, não será. O que será é só da gente: um mundo só nosso que ainda virá. Eu acreditei e você também. A gente esperou roendo as unhas. Éramos frágeis, mas o que sentimos parecia nos tornar fortes. Engano nosso?

As interrogações se sobrepõem. Tento me lembrar de você e te imaginar, procurando algum bom motivo pra gostar tanto daquilo que apenas imagino. Tento redizer cada palavra nossa para encontrar, em alguma delas, um motivo bom pra estarmos tão longe. Mas palavras foram tantas que eu até me perco. Já não sei em qual dessas palavras, benditas ou malditas, tudo começou. Já não sei nem mesmo quando começou. Ou se começou.

Penduro corações naquela velha estante de medos. Um dia pendurei sua foto, tentando, quem sabe, ter um dia melhor. Essa história de amor impossível já foi longe demais, não foi? Foi. Não foi. Foi longe demais justamente porque não foi. Você é que foi. Já foi? Se ainda não foi, não vai!

Não foi preciso um ponto final. Não foi preciso nem mesmo uma pontuação que se preze. Terminou seco assim, em staccato como a música que eu faço pra sobreviver. Frases sem início não precisam terminar. O que não tem começo ou fim, também não deve ter meio. Mas hoje tudo está meio assim, meio acabado, meio finito e, ao mesmo tempo, meio sem fim. Hoje tudo está simplesmente meio. Até eu, que tenho essa mania de ser extremista demais, estou pela metade. Todas as cores ainda lembram você. Mas é melhor assim. Sem início e nem fim. Muito antes do “oi” e infinitamente depois do “tchau”.