Não
se deixe enganar por esses olhos claros que parecem lhe dizer. Tenho sim um
lado Capitu. Enxergue, além das páginas, o que esses olhos realmente dizem.
Tenho sim um lado felino. Algumas garras. Alguns poemas. Dezenas de sonhos e canções.
E sete vidas.
Pra
tentar compreender esses números é que escrevo. Porque minha vida é
adimensional. Tenho um modo de contar que ninguém entende, mas não perco nem a
conta, nem o canto e nem o conto. Engato a rima. Depois, me prendo ao desejo
indomável que existe dentro de mim. Falo sem pausar porque há muito a ser dito.
E porque sempre haverá mais. Palavras não se esgotam e, por isso, eu comemoro a
vida. Continuo contando e cantando, até que alguém entenda minha nota ou some
certo os meus numerais. Números, palavras e melodias não enganam. Mas eu...
Eu
pertenço à classe dos que não têm classe. Sou da minoria e não da unanimidade.
Eu me recuso a ser unânime, nem que seja pelo prazer de contrariar. Mas trago a
sorte, posso garantir. A sorte, a vida e todo o resto que sorte e vida têm que
acompanhar.
Pra
falar desses restos dos quais sobrevivo é que escrevo. Pra que todos aceitem os
meus números. Os meus valores. Os meus amores. Escrevo pra que todos saibam das
sete vidas que me foram entregues e das outras tantas que inventei.