Outro dia me perguntaram se eu não me
sinto intimidada ao escrever no blog. E me questionaram como eu poderia ter
vergonha de tanta coisa e não ter vergonha de me expor aqui.
Sim. Falar de si mesmo configura um tipo
de nudez muito peculiar que, em certos casos, expõe ao mundo algo que roupas
não são capazes de esconder. É uma nudez por dentro. E, para lidar com tudo
isso sem se intimidar, é preciso uma despreocupação tamanha com os julgamentos
alheios. É preciso um preparo prévio para as possíveis reações dos seus amigos
e da sua família e dos seus conhecidos e dos seus parentes de segundo ou
terceiro grau que possivelmente entrarão no blog por mera curiosidade, lerão
apenas um texto e ficarão surpresos porque “a menininha cresceu”. Ficarão surpresos
ao perceberem nas linhas algo que eles nem sempre conseguem enxergar nos olhos.
É preciso, sobretudo, um desprendimento dos fatos. Escrevendo a gente guarda,
mas não resguarda.
Não. Eu não me sinto intimidada em
mostrar o que espero do amor. A Tati Bernardi diz que escrever é como matar o
que aconteceu. Eu assino embaixo. Cada texto é uma página virada. Mas se engana
quem pensa que o que fica é a morte do passado. Não. Fica uma aceitação do que
já foi e um rascunho do que pode ser. Fica uma esperança de que os próximos
amores sejam mais líricos do que aqueles que eu já vivi, com a desculpa de que
me renderão mais poesia. No fundo, escrevo pra colecionar paixões.
Foi escrevendo ao longo desses anos
todos que eu desenhei, dentro de mim, como o amor será quando ele chegar. E
fantasiei essa ideia de que um dia ele vai chegar e, por ser tão semelhante aos
meus desenhos, eu vou reconhecê-lo de imediato. Mas finjo que não acredito nessa
ideia. Que não acredito nesse “um dia chegará e será lindo”. No fundo, se não
acreditasse, sequer escreveria. Escrevo porque acredito. E escrevo, sobretudo,
pra continuar acreditando.