E é isso. Eu não sei se existe algum lugar no qual eu
consiga me encontrar. Não sei se há uma vida que me dê tudo o que eu quero, possivelmente
porque eu não sei o que quero. Só sei que não é nada do que eu já conheci. Fica
sempre faltando algo em todos os cantos. E é isso. Ano após ano, permanece a minha
alma entupida de sonhos perambulando pelo mundo, de um modo quase vagabundo de
tão obstinado.
Mas essa obstinação... Não, não mais com a pretensão de
que em alguma esquina eu me encaixe milimetricamente, porque sou muito
assimétrica para caber. E a ausência já é uma condição assimilada dentro de
mim. Sei que sempre faltará algo. Algo pujante, impalpável, indizível e
provavelmente fantasioso.
Às vezes eu me pergunto o quão amáveis são todas essas
fendas, e se alguém algum dia vai achar que é bonito eu ser tão cheia e ao
mesmo tempo tão vazia. Me pergunto qual a duração no outro do fascínio exercido
pela minha busca incessante. Me pergunto por quanto tempo alguém se propõe a me
fazer remendos, sabendo-os tão predestinados a outros rasgos. É que esse sonho
vivo que mora dentro de mim só cresce, e cresce, e cresce. O conteúdo expande,
mas a superfície continua a mesma. E surgem novas fissuras em pontos que antes
pareciam resolvidos.
Já me sei desse modo, lacunar e irregular e permanentemente
incompleto. Já me sei assim, insaciável, sempre com sede e sempre com fome, sem
jamais encontrar tempero algum que me desarme. Mas sigo perambulando, sim. E
flertando com a possibilidade do encontro exato, por mais inexato que seja o
meu alvo. Buscar é minha condição. E não encontrar... Talvez seja meu combustível.