“Não
espere nada de mim” – ele disse antes de quebrar a minha redoma. Eu não sabia
lidar com aquela despretensão. “Leve” – ele me pediu antes de me beijar. Nunca
tive uma alma leve, é o que eu teria dito se houvesse algum intervalo de tempo
entre seu sussurro e sua boca. Enquanto ele se apropriava de mim, eu tentava
inventar um modo de compreender que a vida podia valer a pena só por aquele
instante. Me causavam vertigem todas aquelas sensações não planejadas, mas
pouco a pouco fui deixando de me pertencer de modo tão rígido e me permitindo
estar à serviço do instante sem me preocupar se tudo aquilo seria ou não
recriminável. Suas mãos deslizavam desmistificando minha cintura. Comecei a me
deixar levar por aquele amor que não exigia nada de nós. E eu vi escapar um
sentimento bonito e novo de dentro de mim, saindo por alguma fresta que ele
abriu sem o menor esforço. Me permiti estar à mercê das nossas almas puras e
dos nossos corpos curiosos. Sem ter o que esperar, ficamos ali, presos naquela
iminência quase adolescente a que nos submetia o agora. Eu também já não queria
ter o que esperar. Eu também já não precisava do amanhã como o destino mais
óbvio. Eu tinha entendido que nós não tínhamos sido feitos para durar, mas que
assim, sendo tudo tão fugaz e tão poético, é que permaneceríamos um no outro de
um modo bom. Se houvesse o dia seguinte, não teríamos tanto zelo com aquela
noite. Se houvesse um plano, nós não cumpriríamos. Então era aquele o nosso
pacto. Era daquela recordação que precisávamos. E o nosso reencontro ficaria
assim, perdido em algum lugar do eterno.