segunda-feira, 7 de julho de 2014

CARTINHA DE AMOR

Querido,

Escrevo essa carta sem a pretensão de que ela possa cruzar nossos caminhos. Escrevo na esperança de que a palavra escrita me salve ou me liberte antes do tempo do luto, que costuma ser sempre longo, indigesto e um pouco doído. Até gosto dessa dor e de toda a poesia que ela me rende, mas por alguma razão dessa vez eu preferiria te eliminar de vez de todos os cantos em que seu nome ecoa dentro de mim. Mas são tantos...

Escrevo esperando que todos esses sentimentos em constante colisão dentro de mim passem definitivamente da minha alma para o papel em branco (e não voltem). Escrevo para antecipar esse fim, que mais cedo ou mais tarde virá. Percebe? Mais cedo ou mais tarde você transitará para o campo da memória e seremos um para o outro apenas a doçura da lembrança - essa sim eterna. Melhor assim.

Lá se foram dois parágrafos e você continua em mim. Não era pra ser desse jeito. O meu plano era que, escrevendo, eu te matasse do lado de dentro e expelisse para o papel todo esse amor bobinho que, de tanto sonhar, já não sabe o que fazer. Mas não. Você se multiplica descontroladamente dentro de mim e eu simplesmente não sei como lidar.

Encerro aqui a mais bobinha de todas as cartinhas de amor que já escrevi. Relendo agora, me sinto de volta aos quinze anos. Amar tem dessas coisas, não? Queria mesmo que, terminando de ler, você devolvesse logo o papel para dentro do envelope e viesse correndo me ver...

Com amor,

Silvia