Querido,
Escrevo essa carta sem a pretensão de
que ela possa cruzar nossos caminhos. Escrevo na esperança de que a palavra
escrita me salve ou me liberte antes do tempo do luto, que costuma ser sempre
longo, indigesto e um pouco doído. Até gosto dessa dor e de toda a poesia que
ela me rende, mas por alguma razão dessa vez eu preferiria te eliminar de vez
de todos os cantos em que seu nome ecoa dentro de mim. Mas são tantos...
Escrevo esperando que todos esses
sentimentos em constante colisão dentro de mim passem definitivamente da minha
alma para o papel em branco (e não voltem). Escrevo para antecipar esse fim,
que mais cedo ou mais tarde virá. Percebe? Mais cedo ou mais tarde você
transitará para o campo da memória e seremos um para o outro apenas a doçura da
lembrança - essa sim eterna. Melhor assim.
Lá se foram dois parágrafos e você
continua em mim. Não era pra ser desse jeito. O meu plano era que, escrevendo,
eu te matasse do lado de dentro e expelisse para o papel todo esse amor bobinho
que, de tanto sonhar, já não sabe o que fazer. Mas não. Você se multiplica
descontroladamente dentro de mim e eu simplesmente não sei como lidar.
Encerro aqui a mais bobinha de todas as
cartinhas de amor que já escrevi. Relendo agora, me sinto de volta aos quinze
anos. Amar tem dessas coisas, não? Queria mesmo que, terminando de ler, você
devolvesse logo o papel para dentro do envelope e viesse correndo me ver...
Com amor,
Silvia