Desde os tempos mais remotos, homens e mulheres se diferem não apenas pelo sexo, mas pelas posições que ocupam na sociedade. Ao longo dos anos, séculos e milênios de ocupação humana na Terra, os papéis se modificam, os conceitos se transfiguram e os preconceitos são parcialmente superados. A sociedade está em constante processo de transformação. A verdade é que tudo o que existe se transforma e, por isso, a sociedade é a própria metamorfose. A história da mulher é regada a lutas, conquistas e evoluções. Até o momento, ninguém venceu a guerra dos sexos. Tudo o que foi conquistado até aqui em prol da igualdade foi fruto de um longo processo que ainda não terminou. A cada dia, os gêneros se aproximam um pouco mais. Homens e mulheres estão sempre mais prontos para caminhar em pista dupla. Mas não foi sempre assim.
A mulher, condenada a uma árdua prisão dentro de si, vivia delimitada pelo cárcere do lar, pelo próprio casulo, pelas supostas limitações físicas. Ela, a mulher, via-se obrigada a sonhar com pouco e a ver o pouco com que sonhava nunca se concretizar. Mulher é rasa.
O homem, definitivamente dono do título de sexo forte, vivia solto no universo, pronto para desafiar a vida e os limites que ela, vez ou outra, lhe ousava impor. Ele, o homem, via-se obrigado a carregar o peso dos seus cargos e a ser o próprio peso do mundo. Homem é denso.
A história dos sexos começa. O homem vai à caça e a mulher põe à mesa. O homem se transforma em pai de família e a mulher educa os filhos. O homem constrói a casa e a mulher organiza o lar. O homem atravessa o globo e a mulher decifra os cômodos. O homem viaja pelo planeta e a mulher viaja dentro de si. O homem faz a novidade e a mulher, com olhos curiosos, aprecia. O homem guarda o “mundo afora” e a mulher aguarda a hora. Mas a hora chega.
O tempo passa. A mulher, que outrora preparou o jantar, cuidou das crianças, organizou a casa e admirou o marido, parece não mais se conter dentro do seu caminho. O destino de Marias, Cecílias, Rosanas, Carolinas, Julianas, Rebecas e infinitas outras donzelas já não lhes basta. A casa, os filhos, o marido, a família e a rotina já não são suficientes. O pó da casa passa a empoeirar a alma. O corpo, também empoeirado, precisa ser observado com mais atenção. A mulher quer opções de escolha. Quer ter direito de decidir a sua direção. Quer dirigir seu próprio filme, redigir o roteiro, controlar o enredo, escolher o elenco, se envolver com a trama. A mulher já não cabe no seu destino e já não aceita as velhas tradições que a sociedade lhe impõe. A mulher quer mais.
A redoma se quebra. O homem, que outrora abasteceu a família, garantiu a descendência, providenciou seu teto, traçou suas rotas e foi contemplado pela esposa, parece perder, pouco a pouco, a sua soberania. Os preconceitos se esvaem. A mulher se cansa de aceitar as regras, de assistir a vida e assistir ao homem. Ela definitivamente não mais se contenta com o papel monótono e rotineiro de sempre dar assistência. O homem se vê obrigado a conhecer e reconhecer a figura feminina. A força e superioridade do chefe de família são colocadas em dúvida. A mulher, cansada de ser apenas a dona do lar, passa a lutar para ser a dona de si: a dona do seu corpo, dos seus desejos, dos seus amores, das suas ilusões e das suas verdades.
O trajeto feminino não foi e não é fácil. A mulher caminha de encontro a si mesma, percorrendo uma estrada de obstáculos. Mas, apostando em um futuro exclusivamente seu, ela encara as dificuldades e desafia a suposta fragilidade do seu sexo. A estrada que leva à independência e à igualdade é árdua: a mulher precisa abandonar toda uma história sofrida de séculos e séculos de submissão. Mas ela consegue. Ela cala o passado e grita por um futuro de poesia. Se torna a senhora do seu destino e prova que o sexo frágil carrega consigo uma força única. Prova para si mesma e para o mundo que é capaz de dividir com o homem as contas, o ambiente de trabalho e os cargos importantes. A mulher está, pela primeira vez, em suas próprias mãos. Ela escolhe seus representantes políticos, sua profissão e escolhe, inclusive, como, quando e para quem vai se doar. Ela quebra as barreiras. Assume seus passos e seus pedaços. Se assume por inteira e se ama. Ela descobre, dentro de si, coragem suficiente para se libertar. Entende que é justamente dentro dela que acontece o milagre da vida. Percebe que pode ser mil. Ou melhor: percebe que é infinita.
O homem resiste. Será possível que aquela que viveu anos e anos dentro de uma gaiola é agora a senhora do seu destino? Surge a pílula anticoncepcional, levantando a bandeira da liberdade sexual. A mulher agora vota. Dirige. Estuda. Trabalha. Paga a conta. Abre o jogo. Ela transforma o amor em um ato de liberdade e coragem. A mulher agora ama.
Chega a hora da reflexão: a mulher, em frente ao espelho, pergunta para si mesma no que, afinal, ela se transformou. Por quantas mulheres a mulher já teve que passar? Que mulher é a mulher de hoje? O resultado dessa passeata rumo à liberdade, ao reconhecimento e à independência feminina é a mulher que não espera acontecer. Aquela que pendura na parede um diploma de curso superior. Aquela que faz entrevista de emprego em empresas importantes, sem ser olhada dos pés à cabeça. Aquela que disputa vagas de trabalho em concursos públicos e obtém resultados tão ou mais satisfatórios do que o homem. Aquela que detém de um poder único ou um dom imensurável: o de ser mãe. Aquela que ainda tem tempo para ensinar aos filhos como é que se vive. Aquela que usa maquiagem e salto alto. Aquela que se declara sem medo. Aquela que sabe conversar sobre política. Aquela que toma a iniciativa. Aquela que se admira. Aquela que pára o trânsito. Aquela que exige momentos inteiros. Aquela que, apesar de tudo, nunca abandonou os feminismos e nem deixou de ser mulher. Pelo contrário: aquela que é mais mulher do que nunca. Aquela que é a dona da história.
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ps: Dedico esse texto à todas as mulheres da minha vida. À todas que entram procurando um pedaço de si nas entrelinhas. À todas que usam meus textos nos perfis do orkut. À todas que me deixam recados lindos que me fazem querer escrever mais e mais. Hoje, sei que não escrevo só pra mim. E isso me faz muito feliz.
A mulher, condenada a uma árdua prisão dentro de si, vivia delimitada pelo cárcere do lar, pelo próprio casulo, pelas supostas limitações físicas. Ela, a mulher, via-se obrigada a sonhar com pouco e a ver o pouco com que sonhava nunca se concretizar. Mulher é rasa.
O homem, definitivamente dono do título de sexo forte, vivia solto no universo, pronto para desafiar a vida e os limites que ela, vez ou outra, lhe ousava impor. Ele, o homem, via-se obrigado a carregar o peso dos seus cargos e a ser o próprio peso do mundo. Homem é denso.
A história dos sexos começa. O homem vai à caça e a mulher põe à mesa. O homem se transforma em pai de família e a mulher educa os filhos. O homem constrói a casa e a mulher organiza o lar. O homem atravessa o globo e a mulher decifra os cômodos. O homem viaja pelo planeta e a mulher viaja dentro de si. O homem faz a novidade e a mulher, com olhos curiosos, aprecia. O homem guarda o “mundo afora” e a mulher aguarda a hora. Mas a hora chega.
O tempo passa. A mulher, que outrora preparou o jantar, cuidou das crianças, organizou a casa e admirou o marido, parece não mais se conter dentro do seu caminho. O destino de Marias, Cecílias, Rosanas, Carolinas, Julianas, Rebecas e infinitas outras donzelas já não lhes basta. A casa, os filhos, o marido, a família e a rotina já não são suficientes. O pó da casa passa a empoeirar a alma. O corpo, também empoeirado, precisa ser observado com mais atenção. A mulher quer opções de escolha. Quer ter direito de decidir a sua direção. Quer dirigir seu próprio filme, redigir o roteiro, controlar o enredo, escolher o elenco, se envolver com a trama. A mulher já não cabe no seu destino e já não aceita as velhas tradições que a sociedade lhe impõe. A mulher quer mais.
A redoma se quebra. O homem, que outrora abasteceu a família, garantiu a descendência, providenciou seu teto, traçou suas rotas e foi contemplado pela esposa, parece perder, pouco a pouco, a sua soberania. Os preconceitos se esvaem. A mulher se cansa de aceitar as regras, de assistir a vida e assistir ao homem. Ela definitivamente não mais se contenta com o papel monótono e rotineiro de sempre dar assistência. O homem se vê obrigado a conhecer e reconhecer a figura feminina. A força e superioridade do chefe de família são colocadas em dúvida. A mulher, cansada de ser apenas a dona do lar, passa a lutar para ser a dona de si: a dona do seu corpo, dos seus desejos, dos seus amores, das suas ilusões e das suas verdades.
O trajeto feminino não foi e não é fácil. A mulher caminha de encontro a si mesma, percorrendo uma estrada de obstáculos. Mas, apostando em um futuro exclusivamente seu, ela encara as dificuldades e desafia a suposta fragilidade do seu sexo. A estrada que leva à independência e à igualdade é árdua: a mulher precisa abandonar toda uma história sofrida de séculos e séculos de submissão. Mas ela consegue. Ela cala o passado e grita por um futuro de poesia. Se torna a senhora do seu destino e prova que o sexo frágil carrega consigo uma força única. Prova para si mesma e para o mundo que é capaz de dividir com o homem as contas, o ambiente de trabalho e os cargos importantes. A mulher está, pela primeira vez, em suas próprias mãos. Ela escolhe seus representantes políticos, sua profissão e escolhe, inclusive, como, quando e para quem vai se doar. Ela quebra as barreiras. Assume seus passos e seus pedaços. Se assume por inteira e se ama. Ela descobre, dentro de si, coragem suficiente para se libertar. Entende que é justamente dentro dela que acontece o milagre da vida. Percebe que pode ser mil. Ou melhor: percebe que é infinita.
O homem resiste. Será possível que aquela que viveu anos e anos dentro de uma gaiola é agora a senhora do seu destino? Surge a pílula anticoncepcional, levantando a bandeira da liberdade sexual. A mulher agora vota. Dirige. Estuda. Trabalha. Paga a conta. Abre o jogo. Ela transforma o amor em um ato de liberdade e coragem. A mulher agora ama.
Chega a hora da reflexão: a mulher, em frente ao espelho, pergunta para si mesma no que, afinal, ela se transformou. Por quantas mulheres a mulher já teve que passar? Que mulher é a mulher de hoje? O resultado dessa passeata rumo à liberdade, ao reconhecimento e à independência feminina é a mulher que não espera acontecer. Aquela que pendura na parede um diploma de curso superior. Aquela que faz entrevista de emprego em empresas importantes, sem ser olhada dos pés à cabeça. Aquela que disputa vagas de trabalho em concursos públicos e obtém resultados tão ou mais satisfatórios do que o homem. Aquela que detém de um poder único ou um dom imensurável: o de ser mãe. Aquela que ainda tem tempo para ensinar aos filhos como é que se vive. Aquela que usa maquiagem e salto alto. Aquela que se declara sem medo. Aquela que sabe conversar sobre política. Aquela que toma a iniciativa. Aquela que se admira. Aquela que pára o trânsito. Aquela que exige momentos inteiros. Aquela que, apesar de tudo, nunca abandonou os feminismos e nem deixou de ser mulher. Pelo contrário: aquela que é mais mulher do que nunca. Aquela que é a dona da história.
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ps: Dedico esse texto à todas as mulheres da minha vida. À todas que entram procurando um pedaço de si nas entrelinhas. À todas que usam meus textos nos perfis do orkut. À todas que me deixam recados lindos que me fazem querer escrever mais e mais. Hoje, sei que não escrevo só pra mim. E isso me faz muito feliz.