quarta-feira, 13 de abril de 2011

COSTURANDO LEMBRANÇAS


Quando eu era menininha, minhas manias eram manipular letras, manusear palavras, manejar as sílabas, mistificar poemas, manuscrever. Minhas mãos não eram cheias de barro e nem de grama. Minhas roupas não eram manchadas de brincadeiras. Eu não tinha cheiro de Gelol. Meu olhar não tinha as cores do jardim. Não persegui borboletas, não subi em pé de fruta, não aprendi a andar de bicicleta, não caí de bicicleta, quase não esfolei o joelho e não tirei algumas bonecas nem mesmo da caixa. Se eu fui criança? Sim, eu fui a dona de um diário de capa verde e cadeado dourado e de um livro chamado O Fio do Riso.



Quanto ao diário, não sei dizer em quantas páginas rabisquei os vãos de mim mesma. Não faço ideia de onde esteja esse diário. Mas o fio do riso... Esse eu não perdi.

Continuo escrevendo e sorrindo. Às vezes, escrevo bem mais e sorrio menos. De repente, sem nenhum motivo aparente, passo a sorrir descontroladamente e o meu sorriso se transforma em risada. Hoje, dou ao meu livrinho de cabeceira um significado muito maior. Entendo que quase tudo está quase sempre por um fio. Já sei que o “quase” é o próprio fio que ainda não se arrebentou.

Os anos se passaram enquanto eu sonhava. Continuo sonhando. A grafia mudou um pouco e as palavras ficaram mais rebuscadas, mas continuo tentando falar das mesmas coisas de antes: dos sonhos e do amor, que é o maior de todos os sonhos.