Eu queria dizer que há em mim um coração
mole e dengoso. Sou, no fundo, frágil. Sou delicada, sou menininha. Nem sempre
sou a pessoa que pareço ser. Mas acho que é assim mesmo: ninguém é, de fato, o
que parece ser. Não o tempo todo.
Ainda que eu tente parecer inabalável, habita
em mim um sentimento que rasga. Que grita. Sim, sentimentos costumam ser
violentos. Às vezes, finjo não me importar com quase nada, só pra que se
importem comigo. Mantenho sigilo sobre parte do que sinto até não suportar mais
meu próprio segredo. Às vezes guardo um verso ou outro só pra mim. Nem sempre
me publico. Às vezes esbarro nos meus poemas. Quase sempre estou assim, entre
uma linha e outra. Fica sendo esse o meu esconderijo: a entrelinha.
Apesar de me esconder nos dias nublados,
me exponho ao que me ilumina sem muita precaução. Apesar da fragilidade que, de
fato, incide, permaneço amando com toda força que há em mim. Apesar das
entrelinhas que guardam segredos meus, minhas palavras são simples. Eu quero mesmo
é que você me entenda. É difícil?