Amar deixa saudade.
Porque é assim. Tão simples, e ao mesmo
tempo profundamente desesperador. O coração disparado, descompassado e
totalmente irracional. O coração batendo no peito, na mão, na boca e no corpo
todo. O sangue pulsando, pressionando, esmagando as veias e artérias e o corpo
todo. E os minutos curiosamente desfigurados: tão longos na ausência e tão
curtos na presença. E o tempo ameaçando parar. E o resto do mundo tão pouco
importante. Danem-se as recomendações de cautela e calma e um passo de cada
vez. Danem-se todos os passos do manual de sobrevivência. Viver basta.
É assim. A razão em outro continente sem
dar notícias. E a emoção tão maior que nós. E os nós frouxos, quase desatados. E
as mãos unidas, preenchendo lacunas e examinando destinos. O tato, o olfato e
todos os outros sentidos. Os olhos, os olhares e todos os outros desafios. Os
braços, os abraços e o espaço nulo entre os corpos. E os tantos jeitos de dizer
uma palavra só. E toda a pressa pelo próximo segundo ou fração de segundo que está
por vir. E todas as músicas fazendo tanto sentido. E cada mínimo detalhe como
parte de uma história que definitivamente não pode ser por acaso. E todas as
barreiras, antes intransponíveis, parecendo tão insignificantes. E tudo, de repente,
mudando de dimensão de um modo tão poético e impreciso. E essa imprecisão quase
que nos deixando fora de foco.
É que esse ato de redimensionar a vida nos
marca e deixa saudade. Depois do amor, toda a poesia parece rimar.