Você chega, pula duas
ou três cadeiras e se senta. Você me pergunta um “tudo bem?” muito casual. E eu
respondo que sim, mesmo que por dentro eu seja pura tempestade. Digo “sim”
porque já é automático. Minha vontade era te contar tudo e tentar explicar o que
eu também não entendo. Mas essa formalidade toda me barra. E fico me ponderando
de um modo quase violento. E, se te devolvo a pergunta com um “e você?”, já sei
a resposta de cor. “Eu também”. Mas não consigo acreditar que a gente consiga
viver assim tão bem sem amor.
No outro dia, sou eu
quem pula as duas cadeiras na hora de se sentar. Já aprendi que deve ser assim.
Falamos sobre tudo e não dizemos nada. Escolhemos palavras minuciosamente de
modo a revelar o menos possível. Eu não quero te amar. E você não precisa
gostar tanto de mim. Só precisamos da simpatia. É assim? Você me esbarra e pede
desculpas. Mas isso significa tão pouco! Queria te dizer que esbarrar em mim
não é um problema grave, mas me limito a dizer “tudo bem”. Já aprendi que deve ser assim.
Não passamos disso. De
você, sei pouco além do nome. De mim, talvez só se saiba o que está escrito.
Melhor assim. Eu não gaguejo e você não me sabe. Eu não te entendo e a gente se
aceita. Sem brigar.