Não deu certo. Não
foi bonito e forte e além como eu pensava. Não ultrapassou barreiras. Porque
aquilo que pra você era um relacionamento, pra mim já era amor. Porque aquilo
que pra você podia esperar até amanhã, eu já esperava a vida inteira. Porque
onde você via chuvisco, eu via a tempestade. Talvez porque as minhas lacunas
sejam profundas demais para alguém preencher. Talvez porque Drummond estivesse
certo. Talvez porque essa falta que eu tanto lastimo deva mesmo se transformar
em ausência assimilada. Talvez porque eu só precise assimilar o mundo como é.
Você como é. O amor como é. E aí já dá pra, quem sabe, a gente ser feliz.
Mas não deu certo porque você não suportou o gosto do meu
pavor. E toda a minha pressa. E esse meu jeito gostar de sentir intensamente só
pra ter certeza de estar viva. E essa minha mania de sempre inventar algo mais
que me faça falta. E essa minha carência de te desenhar cada dia mais perto e
acreditar, inocente, que um dia seríamos um. Você não suportou o meu modo de te
desejar. Porque eu também queria amar do lado de dentro.
Pra você, que sempre gostou de resumos, vou simplificar.
Não deu certo porque, enquanto eu era chama acesa, você era só faísca.