E então ela foi. Despediu-se da vizinha
que havia curado seu umbiguinho quando bebê e também dos velhos amigos. E fechou
as malas como quem vira a página. Olhou a casa de antes, quase sem mobília. Percorreu,
mais uma vez, a rua em que morara desde o primeiro dia de vida. E supôs que,
dali em diante, nada seria como antes. O futuro vinha devorar o passado, ainda
que o ontem estivesse ainda latejando na memória feito brasa. Era como se ela
estivesse na metade do caminho. Entre o antes e depois. Entre a felicidade
certa e aquilo que ela esperava da felicidade. Entre aquela vida assimilada,
digerida, e aquele gosto assustador da novidade. De repente, percebeu que
dentro dela algo também mudava. Mudava de novo. E voltava a mudar. E mudava tão
rápido que parecia impossível dizer, com clareza, em que ela se transformava.
Ela crescia. E não se continha mais dentro de si. Crescia de dentro pra fora. A
rua de casa e o próximo mês passaram a ser limitados demais pra seus planos.
E ela foi. Mas só depois de olhar pra
trás...