cena do filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain"
Depois de você, nunca mais quis que o
tempo parasse. Já não conto os segundos durante uma espera. Já não espero com a melhor roupa, o melhor sorriso, o melhor abraço. O melhor de mim que
eu tenho hoje pra oferecer é muito menos do que aquilo tudo que parecia só
existir se fosse pra você. E que, pela infelicidade de ter logo te
escolhido, tive que guardar só pra mim.
Nenhuma ausência me deixa mais com
aquela saudade insaciável, incontrolada e maior que eu. Depois de você, nenhum
outro amor me fez cometer loucuras. Nunca mais tentei compensar culpas alheias com
possíveis deslizes meus. Já não perdoo crimes graves por medo da perda. Já nem
sequer temo a perda. Passei a entender o amor como passagem.
Depois de você, nunca mais insisti para
que alguém me amasse ou ficasse um pouco mais. Pra ser sincera, nunca mais quis
tanto que alguém ficasse um pouco mais. E me lembro de você a cada vez que
encaro essa minha ferida fechada. Essa minha hemorragia mal estancada. Esse meu
desespero contido. E de pensar que você não sabe nem da metade das minhas
cicatrizes...
Sabe aquelas promessas velhas de que eu
estaria à sua espera? Sem querer, acho que cumpri. Tentei esquecer, não ligar,
não pensar ou não te desejar desse modo tão incandescente. Mas mesmo em silêncio
e depois de tantos anos, sinto que de algum modo minha alma ainda espera pela
sua. E, do seu modo, talvez você também ainda espere por mim.
Apesar dessa espera mútua e calada, sei
que não estamos prontos um para o outro. Não estamos preparados para um amor
tão maior que nós. Não agora. Não nessa vida.