Sua
ausência deixou em mim uma serenidade fria. Deixou em mim uma facilidade
invejável de virar páginas e encerrar ciclos. Deixou em mim uma consciência
dura e doída da efemeridade de tudo, inclusive do que juramos ser eterno.
Deixou em mim uma carência assimilada, regada por uma certeza de que haverá
sempre uma lacuna aparentemente impossível de ser preenchida. Deixou em mim um par de olhos secos e um
adeus entalado na garganta, pronto pra ser articulado. Deixou em mim a
obrigação de me pertencer sozinha e por inteiro. E tirou de vez o “pra sempre”
dos meus planos, por me fazer acreditar que “pra sempre” é tempo demais. Hoje
prefiro dizer “por enquanto”, porque o agora é a única certeza que eu tenho de
mim.
A sua ausência me levou a construir muros firmes em torno de mim
mesma, acreditando que me proteger seria o melhor jeito de não sofrer nunca
mais. Eu estava tão enganada! Veio alguém e ergueu uma ponte mais alta do que o meu muro. Era diferente
de todo o resto. Mas eu não percebi. Estava muito ocupada delimitando
fronteiras.