acima, o meu mapa astral, gerado neste link.
Não era tarde, mas meu espírito
vespertino e minha velhice espiritual me faziam bocejar ininterruptamente.
Deixamos a casa de madeira, a casa dos meus amigos. Atravessávamos ruas escuras
habitadas por um ou outro boêmio. A noite gemia. Sabíamos que um pouco adiante
a serpentina nos engoliria madrugada adentro. E então, quando finalmente
tivéssemos chegado lá, onde os corpos se encontravam sem que se encontrassem os
olhos, já não importaria saber se o que caía do céu era sereno ou chuvisco.
Meu amigo me falava um pouco sobre signos e seus ascendentes. Ele dizia que eu era totalmente sagitariana e que de longe dava pra perceber que meu ascendente era em libra. Ele já estava bêbado e eu estava embebedada em meu eterno mar de sobriedade, o que talvez dificultasse nossa compreensão um do outro. Mas me lembro de ter ouvido que minha ascendência em libra era totalmente condizente com essa minha autofidelidade. E que sim, tudo fazia sentido. Minha rejeição face ao delírio, minha prisão dentro do campo do aconselhável, minha mania de seguir tão à risca as recomendações que eu mesma determinei pra mim.
Por um momento, desejei não ter ascendência em libra. Desejei dormir sem a luz do abajur, pisar descalça no chão gelado, mexer na terra sem luvas. Desejei conversar com estranhos, dar as mãos e entrelaçar os dedos no primeiro encontro, amar sem medo do amanhã. Eu só queria me desfazer de uma capa rígida e mostrar que por dentro sou líquida. Eu só queria esquecer meu lado arredio e espartano e provar que o meu inferno astral não existe. Então me desmontei em um sorriso e sambei mesmo sem saber.
O carnaval acabou. Já varreram a serpentina que ficou esquecida no chão. Os boêmios desconhecidos, com seus olhos misteriosos e por vezes indignos, já não perambulam pelas esquinas sob a luz de estrelas. A bateria está muda, guardada em algum galpão sujo para o ano que vem. Fiquei pensando em um jeito de contrariar os astros, só pra quem sabe alcançar uma felicidade um pouco mais leve e impensada.
Por sorte, hoje descobri que meu amigo bêbado estava enganado. E você, que só me vê de longe ou com o canto dos olhos, também se engana. Sou sim uma sagitariana de fogo rendida a Júpiter. Mas meu real ascendente em aquário me pregou no rosto um par de olhos curiosos, dogmáticos e destemidos que eu, por medo ou fragilidade, às vezes ignoro. Juntando alguma coragem dentro de mim eu digo que estou aqui. Aqui. Pronta para perambular como um flâneur por caminhos sinuosos, encontrando meandros até mesmo dentro de mim. Pronta para tatear o mundo com mãos cada vez mais receptivas e com a pele cada vez mais permeável. Pronta para amar até mesmo o que for reconhecidamente fugaz, mas eterno em um instante.
Meu amigo me falava um pouco sobre signos e seus ascendentes. Ele dizia que eu era totalmente sagitariana e que de longe dava pra perceber que meu ascendente era em libra. Ele já estava bêbado e eu estava embebedada em meu eterno mar de sobriedade, o que talvez dificultasse nossa compreensão um do outro. Mas me lembro de ter ouvido que minha ascendência em libra era totalmente condizente com essa minha autofidelidade. E que sim, tudo fazia sentido. Minha rejeição face ao delírio, minha prisão dentro do campo do aconselhável, minha mania de seguir tão à risca as recomendações que eu mesma determinei pra mim.
Por um momento, desejei não ter ascendência em libra. Desejei dormir sem a luz do abajur, pisar descalça no chão gelado, mexer na terra sem luvas. Desejei conversar com estranhos, dar as mãos e entrelaçar os dedos no primeiro encontro, amar sem medo do amanhã. Eu só queria me desfazer de uma capa rígida e mostrar que por dentro sou líquida. Eu só queria esquecer meu lado arredio e espartano e provar que o meu inferno astral não existe. Então me desmontei em um sorriso e sambei mesmo sem saber.
O carnaval acabou. Já varreram a serpentina que ficou esquecida no chão. Os boêmios desconhecidos, com seus olhos misteriosos e por vezes indignos, já não perambulam pelas esquinas sob a luz de estrelas. A bateria está muda, guardada em algum galpão sujo para o ano que vem. Fiquei pensando em um jeito de contrariar os astros, só pra quem sabe alcançar uma felicidade um pouco mais leve e impensada.
Por sorte, hoje descobri que meu amigo bêbado estava enganado. E você, que só me vê de longe ou com o canto dos olhos, também se engana. Sou sim uma sagitariana de fogo rendida a Júpiter. Mas meu real ascendente em aquário me pregou no rosto um par de olhos curiosos, dogmáticos e destemidos que eu, por medo ou fragilidade, às vezes ignoro. Juntando alguma coragem dentro de mim eu digo que estou aqui. Aqui. Pronta para perambular como um flâneur por caminhos sinuosos, encontrando meandros até mesmo dentro de mim. Pronta para tatear o mundo com mãos cada vez mais receptivas e com a pele cada vez mais permeável. Pronta para amar até mesmo o que for reconhecidamente fugaz, mas eterno em um instante.