Não sei se este texto é
pra você ou pra mim mesma. Não sei a quem atribuir a incumbência de te fazer
sumir de mim. Já não consigo dizer se a culpa por você morar em mim é sua ou
inteiramente minha. Sua, por me seduzir tão sem querer; ou minha, por ter
esquecido propositalmente o caminho de casa. Sua, por me sorrir tão
amigavelmente; ou minha, por nunca te contar claramente que queria na verdade
um outro sorriso.
Seja lá pra quem for
este texto - seja para o seu coração ou para o meu juízo, para a sua
despretensão ou para o meu descuido - deixo aqui a sentença irrevogável de que
não quero mais. Não quero mais te encontrar casualmente nos seus cantos mais
óbvios sem assumir que estou ali à sua procura. Você não some de mim porque não
deixo. Não some porque insisto em ir aos mesmos lugares repetindo baixinho por
dentro que é só acaso. Não some porque eu te mantenho, silencioso assim, em
algum lugar desterritorializado e atemporal. Se o seu sorriso permanece o
mesmo, só me resta tomar essa estrada larga e caminhar de volta pra casa.