É claro. Amar ainda vale a pena. A vida
a dois ainda é uma opção viável desde que uma série de pré-requisitos seja
atendida, como cumplicidade e companheirismo e respeito e carinho e admiração.
Namorar ainda me soa algo bonito, mas confesso que o “namoro do século XXI”
definitivamente não me agrada. Eu vou te explicar.
Namorar tornou-se algo excessivamente
meloso. Indubitavelmente enjoativo. E chato. Nunca fui avessa a compromissos,
nunca mesmo. Até acho que o grande compromisso, aquele que verdadeiramente tem
valor, mora dentro de nós. E, por essa razão, não sou adepta a aliança de
compromisso, declarações explícitas e outras loucuras de amor. O amor é, por
si, louco. Ou deveria ser. Afinal, quando é que renunciar a um monte de coisas que
te faziam feliz por uma felicidade única que apenas se espera que seja eterna é
ter sanidade? Mas enfim, indagações à parte. O que eu quero dizer é que ainda
acredito no romance, mas que o amor que eu preciso pra me sentir inteira é
muito diferente do que se vê por aí.
Pessoas começam a namorar e somem.
Colocam aliança e você nunca mais sabe delas. Esquecem amigos, esquecem família
e se esquecem de si. Um vira dois e dois vira um. Um só. Uma anulação em ambas
as partes. Uma junção de metades pra compor uma unidade. Uma união de meias
verdades pra fazer uma verdade inteira e um universo particular. Onde já se
viu?
Sinceramente, gosto de amigos solteiros.
Não que eu seja farrista, pelo contrário. Não que eu seja egoísta ou
possessiva, nenhum pouco. Não que eu seja amargurada, não me considero. Não que
eu tenha desacreditado no amor, eu ainda acredito. Mas sabe o que é? Eu tenho
total desconfiança daquelas paixões do dia pra noite que dizem “eu te amo” como
se fosse “oi” e depois dizem “adeus” como se fosse “até logo”. Entende? Não
acredito em casais que se conhecem em baladas e juram amores eternos no dia
seguinte pelo telefone. Não dou crédito a casais que se tratam por “amor”,
“benzinho”, “linda” e “coração” o tempo inteiro. Não, eu não sou amargurada, já
disse. Mas sabe o que é? Não suporto casais que se beijam loucamente numa roda
de amigos. Não suporto amigos que rompem amizades sinceras para se dedicarem
única e exclusivamente ao ser amado. Tudo bem, vou soltar uma verdade tão nua e
crua que dói até na alma: acho que o amor é quase sempre transitório. Essa
minha revelação não deve ficar sendo remoída, você corre o risco de concordar
comigo.
Já tive amigas que sumiram por anos enquanto
estavam namorando e apareceram incrivelmente uma semana após o término
dispostas a sair comigo de segunda a domingo. Já tive amigos que deixaram de se
importar comigo só para dar crédito a inseguranças mal fundamentadas,
inexplicáveis e disfarçadas de ciúmes. Já vi pessoas parecerem irreconhecíveis
quando ao lado do parceiro. E achei tudo isso um absurdo.
O namoro do século XXI é patético e
totalmente contrário ao que se costumava esperar do amor em tempos de outrora. O
que era pra ser leve pesa demais. O que era pra ser diferente e único é
perfeitamente igual a todo o resto. O que era pra ser emocionante é monótono. O
que era pra sair da rotina cai no tédio do dia-a-dia e do compromisso lacrado,
calado, robô.
E quase sempre há um fim. Em meio a tantos
amores que se arranja pela vida afora, a possibilidade de ser eterno é mínima.
Quase sempre acaba em uma olhada mal arquitetada para um corpo avulso, em uma
discussão medíocre de gostos e opiniões ou em muito cansaço. O cárcere enjoa
até mesmo os corações cegos, iludidos, deslumbrados e apaixonados. A prisão
cansa. A sensação de já não se pertencer sufoca. As proibições despertam a
vontade de conhecer o novo. Afinal, sempre haverá mais além de onde seus olhos
enxergam. O mundo sempre estará a nossa espera cheirando novidade. E, em algum
momento da jornada, é grande o risco de um voltar a ser dois.
E o que sobra depois do fim? Quase nada.
Sobra a solidão, o desconforto, os restos de tanto exagero. Sobra a falta de
amigos, a ausência, o buraco profundo e aparentemente irreparável. Sobra a dor.
Sobram os finais de semana em casa cheios de lembranças. Sobram as cartas que
melam até a alma. Sobram as fotos a serem apagadas das redes sociais de forma
brutal, como se o outro tivesse mesmo morrido. Sobra uma espécie de morte da
unidade de que você fazia parte. E falta parte sua. E falta você quase inteiro,
afinal, até sua integridade havia ficado comprometida. E, sobretudo, sobra a
saudade dos tempos de outrora.