Por mais comum que esteja se tornado o
lado ruim da vida, eu não me acostumo. E quando esses episódios se repetem,
continuo chorando como uma criança. Continuo tendo vontade de desistir, porque
sou humana. Continuo pensando, ainda que muito rapidamente, em deixar tudo de
lado e ir pra longe. Continuo com a pergunta incalável se tudo vale mesmo a
pena. Continuo cheia de indagações contidas, morrendo de medo de um dia não
conseguir mais me conter. E mesmo amando as delícias e desesperos da vida
moderna, por vezes ainda penso em morar no meio do nada, ao lado do desabitado
e do desconhecido e bem longe da suposta civilização.
Quer saber? Tenho questionado muito esse
conceito esquisito de civilização. E tenho achado que aquilo que consideramos
mais civilizado é, no fundo, muito mais selvagem. E tenho achado que os mais
sérios são os grandes palhaços do espetáculo. E tenho me perguntado se os
contratos que assinamos dia e noite têm mesmo a validade que supomos. Ou se
tudo, inclusive a própria vida, não é passível de ser rompido a qualquer
momento.
Quer saber mais? Tudo o que eu queria
hoje é descansar. Mas isso passa. A vida é marcada por um tempo apressado e
permite apenas minúsculos hiatos pra que a gente retome o fôlego. E esse tempo
é ditado pelas regras do cotidiano, e não pelo nosso coração. Se assim fosse,
nem sei quando eu voltaria. Ou se voltaria. Mas devo respeitar as normas desse
jogo. Amanhã, tudo vai recomeçar. Porque o amanhã será sempre um novo dia à
nossa espera. E esse é só mais um recomeço. De recomeço em recomeço, a vida vai
seguindo. Porque precisa seguir. E essa não vai ser a última vez.