Já não sei dizer por quantas vezes
equivocadas eu te disse “adeus”. E você, de um jeito ou de outro, quase sem
querer, sempre voltava. Nem que fosse pra me pedir um último beijo, que
obviamente jamais seria o último. Éramos um do outro e isso estava comprovado.
Essa nossa posse recíproca era nossa lei inviolável. Pertencíamos um ao outro
em cada célula, em cada veia, em cada segundo, em cada compasso. E já era
exatamente assim antes mesmo de eu suspeitar que te amaria um dia.
Mas não me rendi de primeira. Fui fiel
ao meu signo, ao meu humor doce e ácido, ao meu gênio indomável, ao meu coração
cheio de farpas. Mas você me domava de um jeito infinitamente soberano. E me
dominava como relógio em pulso de gente pontual. E me dominava como os
comerciais de TV em sala de capitalista. E me dominava como música alta em
noite de festa. Não. Você me dominava de um jeito absurdamente superior a tudo
isso.
Mas não importa. Mesmo depois de tanto
falso adeus, de algum modo, eu sabia que aquele seria o último. Sabia que
estava molhando o seu rosto com lágrimas pela última vez. Sabia que meus olhos
acompanhavam a sua partida decidida até o final da rua pela última vez. Mas,
sobretudo, sabia que o amor ficava.