quarta-feira, 8 de abril de 2009

"SOU UM CORAÇÃO BATENDO NO MUNDO."

Vejo o mundo por ângulos inusitados que se fundem às mil sensações despertadas em frações de segundos e me confundem. Sensações que me remetem à um imaginário infinito e pleno, muito próximo do infinito azul em que me encontro. A cada intervalo de tempo, uma nova imagem é formada pela imensidão que toma novas formas conforme o lugar ao céu que eu passo a ocupar. Dentro de mim não há vazio algum, ainda que eu me encontre dispersa e sozinha nesse céu. Tento descodificar o embaraço que em mim se faz pela simplicidade do voar que eu, até então, desconhecia. Não sei o que fiz com os medos que agora não mais encontram espaço em mim. Não mais ocupam esse meu coração que, no ar, toma uma proporção gigantesca e passa a não se conter na minúscula matéria que se faz minha. Meu coração, nesse céu tão imenso, deveria parecer pequeno. Mas, pelo contrário: ele se torna tão maior que chega ao ponto de eu ter que expulsá-lo de mim para que, por fim, eu possa encontrá-lo tão livre quanto estou agora, voando.
Lá do alto vejo os prédios, as pessoas, os carros. Vejo tudo e, pela primeira vez, sou apenas observadora, sentindo-me avessa a essa realidade que, no fundo, bem lá no fundinho, ainda me pertence. Vejo toda a matéria envolta pela atmosfera e eu. Do ar, a Terra parece miúda e o coração das pessoas também. Só mesmo o mar, que é criação divina, ainda se faz imenso e eterno. Já as estrelas, todas elas sorriem pra mim, que passo a fazer parte de um infinito celeste e me misturo à constelação. Sou quase uma dessas estrelas a quem todos lá embaixo fazem pedidos o tempo todo. Sou quase um anjo agora. E estou muito perto de Deus.
Já não sou a mesma. Voar me deu a certeza imediata de que há muito pouco do que eu era em mim. Sinto uma ponta de vaidade por tudo o que me tornei em tão pouco tempo e passo a achar que todo mundo deveria voar pelo menos uma vez na vida. Aqui no céu eu me sinto de tudo. E acho que sou tudo ao mesmo tempo. Um pouco artista, um pouco autista, um pouco alegre, um pouco triste. Um pouco humana, um pouco anjo. Conserto: Sou mais que humana. Tenho um coração poeta, tenho asas e tenho coragem suficiente pra voar.