quinta-feira, 17 de abril de 2014

PERAMBULANDO, SIM

E é isso. Eu não sei se existe algum lugar no qual eu consiga me encontrar. Não sei se há uma vida que me dê tudo o que eu quero, possivelmente porque eu não sei o que quero. Só sei que não é nada do que eu já conheci. Fica sempre faltando algo em todos os cantos. E é isso. Ano após ano, permanece a minha alma entupida de sonhos perambulando pelo mundo, de um modo quase vagabundo de tão obstinado.

Mas essa obstinação... Não, não mais com a pretensão de que em alguma esquina eu me encaixe milimetricamente, porque sou muito assimétrica para caber. E a ausência já é uma condição assimilada dentro de mim. Sei que sempre faltará algo. Algo pujante, impalpável, indizível e provavelmente fantasioso.

Às vezes eu me pergunto o quão amáveis são todas essas fendas, e se alguém algum dia vai achar que é bonito eu ser tão cheia e ao mesmo tempo tão vazia. Me pergunto qual a duração no outro do fascínio exercido pela minha busca incessante. Me pergunto por quanto tempo alguém se propõe a me fazer remendos, sabendo-os tão predestinados a outros rasgos. É que esse sonho vivo que mora dentro de mim só cresce, e cresce, e cresce. O conteúdo expande, mas a superfície continua a mesma. E surgem novas fissuras em pontos que antes pareciam resolvidos.

Já me sei desse modo, lacunar e irregular e permanentemente incompleto. Já me sei assim, insaciável, sempre com sede e sempre com fome, sem jamais encontrar tempero algum que me desarme. Mas sigo perambulando, sim. E flertando com a possibilidade do encontro exato, por mais inexato que seja o meu alvo. Buscar é minha condição. E não encontrar... Talvez seja meu combustível.