segunda-feira, 18 de julho de 2011

O QUE RESUME A NOSSA VIDA


Nós andamos com falta: de tempo, de espaço, de amigos, de risos, de momentos inteiros, de sentimentos de verdade, de olho no olho e de amor.

O trecho que você acabou de ler tem 140 caracteres, contados. É claro que sentimos falta de uma porção de outras coisas, mas precisei resumir, sintetizar, enxugar, reduzir, minimizar... as minhas palavras. Assim como tenho feito com a vida. É.

Viver já foi bem mais tranquilo, desapressado, sossegado e calmo. O dia a dia já exigiu bem menos de nós. A vida já foi bem mais leve, eu sei. A balança registra:

Nossas preocupações nos prendem. Nosso sedentarismo nos engorda. Nossa excentricidade nos engole. Nosso mundinho virtual nos engana. Nossa pressa nos faz esquecer o essencial. Nossos valores moderninhos rompem com toda a nossa crença no amor e suas mais diversas vertentes. A correnteza não nos deixa remar contra a maré. O relógio nos aprisiona nos sessenta segundos do minuto, nos sessenta minutos da hora, nas vinte e quatro horas do dia, nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano e por aí vai.

Vivemos contando. Estamos em contagem regressiva. Ficamos presos no tempo cronológico que dita todas as regras. Calamos nosso “relógio biológico”. Sobrevivemos de números que falam por nós. Número de tatuagens, número de ex-namorados, número do modelo do celular, número da memória do computador, número de seguidores no twitter, número da conta bancária, número do ano do carro, número de beijos em uma noite... Desenvolvemos essa mania estranha de numerar tudo pra facilitar o entendimento das coisas mais simples. Estabelecemos nossas metas sempre em colocações e quantidades. Aí me lembro daquela velha música dos Engenheiros do Hawaii: “E eu? O que faço com esses números?”

Com essa nossa mania de contar os números, nos esquecemos de contar histórias. Resumimos nossas vidas às vidas que se resumem em nós. Sintetizamos nossos sentimentos mais extensos, que se estenderiam em longas conversas, nos 140 caracteres permitidos. Não, não sou boa com essas coisas. Acho difícil demais me reduzir. Acho que existe muito mais em mim do que esses dígitos contados me deixam dizer. E mais: acho que existem muito mais frações de segundos que valem por uma vida inteira do que relógios são capazes de marcar. Repito: não sou boa com esses números.

Na pressa que anda a nossa vida, declarar-se virou algo que exige tempo, desprendimento e preparação. Estamos acomodados com essa situação: amamos e esperamos que o outro desconfie, perceba, entenda. Acho um absurdo ver que as palavras mais bonitas estão ficando sempre subentendidas, como se fossem evidentes demais. Mas nem sempre são. Amor, hoje em dia, não é lá coisa tão óbvia, ainda que nos consideremos amantes com tanta facilidade. É que amar com todas as letras não é tarefa fácil...

Gosto mesmo é de contar meus casos. De ser reticente. De me desencontrar no tempo. Esquecer a hora. Perder as contas. Prefiro me confundir na divisão a ser sempre exata. Não quero ter resultados na ponta da língua. Gosto mais do resto que do quociente. É no resto que ficou a melhor parte da vida, pode acreditar: aquilo que sobrou de nós...

Por essas e outras razões, insisto na vida de verdade. Não que eu seja um exemplo de desapego, despreocupação e leveza. Não que eu seja zen. Não que eu pratique ioga ou tenha milhões de rituais estranhos. Mas eu acredito nos sentimentos mais bonitos e mais simples. E espero por eles como uma criança espera pelo doce. No fundo, essa comparação se aplica muito bem: os momentos inteiros são mesmo os mais doces.

Então, como dizia Caio Fernando Abreu...

“Que seja doce!”


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ps: Se você ficou curioso quando eu falei sobre a música dos Engenheiros do Hawaii, mate essa curiosidade aqui. Vai valer a pena.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

MUDE-SE


Feliz mesmo é quem consegue se reinventar mesmo percorrendo os mesmos cômodos, sustentando a mesma rotina, enxergando as mesmas cores, visitando os mesmos amigos, indo aos mesmos lugares.

Bom mesmo é comprar o objeto novo de decoração ou mudar os objetos de lugar e já chegar à conclusão de que tudo parece mais bonito e moderno. É enxergar novidade nos pequenos detalhes que diferenciam a segunda-feira da terça-feira. É perceber que essas minúcias transformam dias em datas e fazem com que elas não sejam apenas conjuntos em um calendário velho. É entender que cada cor hospeda um amontoado inesgotável de tons que, sobrepostos, nos trazem novamente à folha em branco, capaz de nos transportar a toda parte do universo. É ir aos mesmos lugares procurando, vez ou outra, por um caminho diferente. Toda vida precisa de alguma inovação. 

A gente precisa de variação: na cor do cabelo, no tamanho do salto, na cor das unhas, no quadro da parede da sala, no livro de cabeceira. De alguma forma, a precisamos viajar, mesmo que dentro de nós. E tenha certeza: não há viagem mais infinita do que aquela que a gente faz sem sair do lugar.

Transcender é necessário. 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

POR FAVOR, ENTENDA...


Hoje, durante o horário de almoço, confesso que me perdi no tempo por alguns instantes. Isso não é lá muito anormal. Preciso admitir: fico constante desconectada do universo real e totalmente entregue aos planos, desejos, sonhos, vontades, apreços. Não nego minha mania de sonhar. Assumo.

De repente, meus pensamentos silenciosos foram interrompidos por alguém dizendo:

- Como você é estranha! Mas a gente gosta do seu jeito, assim mesmo, viu?

Fiquei pensando... É estranho ser vista sempre pelo mesmo ângulo. É estranho ser sempre analisada pelos mesmos olhos que insistem em acreditar que é desconexo se desconectar. É estranho ter um universo tão a parte em que os outros não conseguem, de maneira alguma, penetrar. É estranho.

Continuei pensando... Tomara, tomara mesmo, que num dia qualquer de primavera, verão, outono ou inverno, cruze o meu caminho alguém que consiga me enxergar como ninguém nunca pôde. Alguém que não se espante quando eu falar dos meus sonhos, que não se assuste quando eu contar meus medos, que não desvie o olhar quando eu falar com meus olhos e que caiba, por fim, nos meus abraços.

Se eu pudesse fazer um pedido, seria esse: “Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda...”

sexta-feira, 1 de julho de 2011

PASSIONAL


O que penso, falo. De repente, vez ou outra e por acaso, falo também o que não penso. Depois, me retifico ou tento.

O que sinto, digo sem muitas erudições. Proibido é dizer sem sentir ou sentir sem dizer. Tenho o coração na ponta da língua.

O que não aceito, reivindico. O que não gosto, reinvento. O que amo, reviro e revivo: peço mais.

O que faz bem aos ouvidos, deixo tocar até ensurdecer. As palavras doces, finjo que não entendo e peço pra repetir. Palavra bonita eu anoto.

O que penso ser verdade, grito. O que penso ser suave, sussurro. Sussurro...

Do que é mais doído, me lembro até o fim da memória.

Bem gosto de expor meus exageros. É bom me parecer comigo.

Espio as miragens e, com elas, pauso a vida por alguns segundos.

O que me surpreende é o que me faz feliz. O que emociona tem sempre o gosto da primeira vez. Gosto desse gosto. Surpresa é doce.