quinta-feira, 17 de junho de 2010

PRESENTE

- Seu presente chegou. Ele está ali.

Senti borboletas na barriga quando ouvi isso. Como eu desejava tudo o que viesse de você o quanto antes! Como eu tinha pressa, urgência, loucura pelo que quer que tivesse seu nome. Seu nome... Seu nome... Seu nome, seu nome, seu nome.

Era amarela a caixa. Amarela e grande. Tudo bem. Não há nada de tão surpreendente nisso. Afinal, todas as caixas do SEDEX são amarelas. Mas o amarelo é minha cor preferida. A caixa tinha a cor e o tom que me faziam feliz. E eu me recuso a acreditar que seja mera coincidência. Sempre fui assim. Escolhi acreditar na sorte. No destino marcado. No amor ali, escrito nas estrelas. Escolhi entender a conspiração e a inspiração. Escolhi fazer pedidos às estrelas. Escolhi apostar nessa idéia romântica de que, em algum canto por aí, você vê a mesma lua que eu enquanto peço, em segredo, pra te ter na minha visão. Escolhi brincar de bem-me-quer nas margaridas sem me lembrar que existe mal-me-quer. Escolhi te encontrar nos livros, nos sons, nos versos, nas cartas, nos traços, nos riscos, nos rabiscos e nas letras de caneta. Escolhi te encontrar no seu próprio dia. Escolhi te encontrar em mim e me encontrar no nosso encontro. Escolhi seguir a intuição e fiz de cada movimento seu, um passo da nossa dança que seguia por si, sem obedecer à música que tocava. Sempre segui meu ritmo.

Procurei o lugar mais bonito para abrir o que era nosso. Nosso caso precisava de cena e de cenário. E assim, facilmente, viraria história de filme. (Se é que já não era).

Examinei primeiro a sua letra que preenchia os campos de destinatário e remetente. Seus traços tortos (pra mim, perfeitos), seus pingos nos “Ís” em formato de bolinhas e seu nome, sobrenome e endereço. De dentro da caixa saiu um amor visível. Tudo, nos mínimos detalhes, me agradava. Já não me lembro do que foi que vi primeiro. Mas sei que, em segundos, inúmeros amores estavam espalhados em cima da minha cama. Cada surpresa continha, em si, um carinho enorme que brilhava tanto que cegava os olhos. O amor estava em todos os cantos, inclusive em mim. O amor invadia o quarto e, orgulhoso, tomava conta de todo espaço, preenchia todos os vazios e se encaixava perfeitamente em tudo o que era meu. Seu amor parecia ter sido moldado aos meus próprios sonhos. Cada detalhe era poesia.

Você enviou, de longe, um cheiro que se instalou em mim. Posso convocar, em pensamento, esse cheiro, porque impregnou. O perfume, por si, explodiu meus sentidos e, mais uma vez, me fez feliz. E então, dei o primeiro jato. Bem sei que é pra manter o HUMOR.

Os corações vieram embalados, um a um. Confesso que não soube, de cara, o que havia dentro até que você, gentilmente, me contou que era óleo para a pele. Mas, decididamente, eu não iria estourá-los por nada. Repito: me fale sobre esses corações daqui a mil anos, e eu ainda os terei comigo.

O cachecol é vermelho e xadrez. Gosto de vermelho e gosto de xadrez. Isso também não foi acaso. De alguma forma, você vai me proteger do frio que tanto me incomoda. Vou te combinar com todas as cores e com todos os amores que eu puder inventar. Vou te levar comigo e será bonito ter um pedaço seu em mim. Pensando bem, já tenho vários pedaços seus em mim. Mais do que eu poderia supor. Muito mais, amor.

O crucifixo é proteção. Sei que ele tem mais energia do que qualquer outro que eu pudesse comprar. É a nossa fé que move as montanhas. Sempre foi assim. A fé, a coragem, o amor e, lá no fundo, a insensatez. Essa mesma insensatez me faz, agora, querer te ver menino. Mas eu sei que, no fundo, menino você não é mais. Mas te chamar assim é algo que te torna infinito em mim, daqui até a eternidade. Aprendi que eterno é exatamente aquilo que não cabe no tempo. Somos assim. Esbarramos no tempo o tempo todo. Mas eu ainda tenho voz e disposição pra gritar o mais alto que eu puder na esperança de que, em algum momento, o som da minha voz possa, quem sabe, chegar aí.

As suas palavras vão pra minha coleção. Admirei sua letra, os pingos nos “Ís” em formato de coração e a pureza de sempre. Foi através de palavras que eu te conheci e te reconheci. Foi através de letras, desenhos, traços, fotos, músicas e cheiros que eu me apresentei pra você e exigi, com muita convicção, a sua presença. E foi assim que entendi que gosto de você e que não é de hoje. Gosto porque gosto. Gosto porque gostar de você é bom. Gosto porque o gosto de gostar de você é doce. E foi assim mesmo que começou a nossa história. Eu te disse: “Que seja doce!” E foi.

O seu olhar eu vou colocar na estante. Pra eu ter um dia feliz.

E quanto ao seu amor... Será sempre o meu amor.