domingo, 7 de agosto de 2011

A MINHA SORTE


“Sorte é isto. 
Merecer e ter.” 
(João Guimarães Rosa)

Os calvinistas, quando inventaram a teoria da predestinação absoluta, erraram feio. Quando, na literatura realista, incorporaram o determinismo científico, também estavam redondamente enganados. Sou, de fato, adepta ao existencialismo de Sartre. Esse sim sabe o que diz.

Tudo bem. Chega de palavras que parecem não dizer nada. O que eu quero falar hoje é que nós somos inteiramente responsáveis pela nossa vida. Sei que não é fácil tomar conhecimento de uma verdade como essa, mas preciso esclarecer: cada um tem o que merece.

É inútil tentar justificar nossas frustrações usando as pedras que apareceram no caminho. Nossa trilha não está previamente traçada. Nossos destinos não estão escritos nas estrelas. A gente é que muda as estrelas de posição e escreve a nossa vida. Assim, sem borracha.

Não sair do lugar é como nunca passar a limpo. É uma covardia. É como passar horas tentando decorar um roteiro, preocupado pra que tudo seja perfeito, elaborando até as estratégias para solucionar pequenos deslizes e, na hora da encenação, esquecer as falas. É como elaborar uma história de amor das mais bonitas e não viver por medo. É como ensaiar um passo de dança e faltar à apresentação. É como ser um mero rascunho de si mesmo.

A minha sorte é ser o oposto disso tudo. É planejar os próximos dias e mudar toda a rotina, se for preciso, pra que os sonhos caminhem lado a lado com a realidade. É claro que às vezes invento. E acredito em ilusões que jamais serão verdades. Confesso também que nem sempre meus esforços me garantem o sucesso. Vez ou outra dá tudo errado. Mas, por sorte minha, na maior parte das vezes dá certo.

Não pense, no entanto, que essa sorte me veio como dádiva. Ser sortudo é algo muito trabalhoso, pode acreditar. Só quem luta pela sorte sabe o quanto é difícil. É que essa sorte que cai do céu não existe. Ou se existir, ainda não fui premiada. A única sorte que eu conheço é aquela que cai, gota a gota, do nosso suor de cada dia. Sortudos somos nós quando nossos méritos são reconhecidos. São merecidos. São recompensados. Sorte é ter sonho e realidade caminhando em pista dupla.

De uns tempos pra cá, a sensação de estar tão perto de desejos que, pra muitos, são inalcançáveis tem me feito muito bem. Não há nada melhor do que me sentir legitimamente merecedora de tudo o que tenho conquistado. E de todo o meu futuro, a melhor parte.

Concordo com quem diz que é bom acreditar que as adversidades que porventura aparecerem serão irrelevantes se comparadas à força da nossa vontade. No entanto, confiar na sorte, definitivamente, não é meu lema de vida. Nunca fui o tipo que “deixa rolar”. Não sou a favor dessa despretensão, dessa casualidade. Prefiro acreditar que a sorte sou eu e, dessa forma, confiar em mim. Prefiro entender os dias como oportunidades únicas de perseguir tudo o que acredito ser certo. Prefiro não impor limites àquilo que almejo. Sei que a própria vida se encarregará, em alguns momentos, de me mostrar até onde eu posso ir. E eu vou saber aceitar. Mas, por enquanto, prefiro seguir acreditando que o céu é o limite.