quarta-feira, 20 de junho de 2012

DEPOIS DE OLHAR PRA TRÁS



E então ela foi. Despediu-se da vizinha que havia curado seu umbiguinho quando bebê e também dos velhos amigos. E fechou as malas como quem vira a página. Olhou a casa de antes, quase sem mobília. Percorreu, mais uma vez, a rua em que morara desde o primeiro dia de vida. E supôs que, dali em diante, nada seria como antes. O futuro vinha devorar o passado, ainda que o ontem estivesse ainda latejando na memória feito brasa. Era como se ela estivesse na metade do caminho. Entre o antes e depois. Entre a felicidade certa e aquilo que ela esperava da felicidade. Entre aquela vida assimilada, digerida, e aquele gosto assustador da novidade. De repente, percebeu que dentro dela algo também mudava. Mudava de novo. E voltava a mudar. E mudava tão rápido que parecia impossível dizer, com clareza, em que ela se transformava. Ela crescia. E não se continha mais dentro de si. Crescia de dentro pra fora. A rua de casa e o próximo mês passaram a ser limitados demais pra seus planos.

E ela foi. Mas só depois de olhar pra trás...