Tenho esse defeito fatal de estar sempre
rendida diante do que pode ser posto em palavras. Tenho essa mania tola de ser
narradora da minha própria vida, na esperança de que assim ela seja pautada pelo
mais intangível dos lirismos.
É essa a minha sina: preciso dizer.
Preciso ouvir. Preciso contar histórias. Minha alma é um quarto escuro cheio de
letras perdidas por entre medos, amores e sonhos que colidem o tempo todo.
Não aprendi outros sinais que não a
palavra. Não te reconheço fora da minha estrofe. Só a linha materializa o nosso
amor, mais nada. E, entre uma linha e outra, fica sempre aquilo que eu não
posso ou não devo dizer, mas que você já sabe. E, se você sabe, é porque
compactuamos essa narração indizível que meu coração arrisca. É porque não
estou escrevendo essa história sozinha, e porque dentro de você há também algum
lirismo que os outros não veem. Eu vejo. E me deslumbro.
Desconfio seriamente de que não nos amamos.
Acho que só nossas poesias se amam e se rimam. Nós não. Nossos caminhos reais
não se cruzam porque somos poetas e sabemos que só será lírico enquanto for
irreal. Talvez seja mesmo tudo irreal. Talvez seja só o meu narrador,
perdidamente apaixonado pelo seu, que se perdeu em algum verso do seu olhar.