sábado, 29 de janeiro de 2011

NAS CORES INVISÍVEIS



Vamos ler aqueles poemas que ainda não foram escritos, e vamos escrever o nosso próprio poema, sem versos. Sejamos o verso um do outro. Sejamos amor frente e verso.

Vamos fazer barulho no nosso silêncio, de um jeito que só a gente entenda. Vamos cantar uma canção inaudível. Vamos pronunciar a melodia de ser calado. E vamos amar assim, calados. Colados. À meia luz.


Vamos tocar o infinito. Vamos ser eternos, apenas por hoje. Vamos percorrer o mundo dentro do menor cômodo. Dentro de nós.


Você vê no que nos transformamos? Então vem, sejamos senhores de um destino invisível. Vem, que eu te deixo escolher a cor dos nossos sonhos. Vem, que eu te deixo escolher a próxima canção. Vem, que os discos de vinil já não me bastam. Vem, que eu preciso de alguém pra ser meu acorde. Pra entrar em acordo. Pra me acordar.


A minha aquarela precisa das suas cores. Preciso esbarrar em seus tons pra me sentir inteira. Assim, nosso caso começa no tom certo. Sem desafinar, fica assim combinado. Passeio por nuances incertos. A incerteza é a minha condição. Nosso encontro é tom sobre tom. Nosso destino é traçado pelas mesmas canetas hidrocor.
..

Minhas filosofias caíram em contradição. Você já sabe dos meus cabelos finos e desgrenhados pelo vento. Já sabe dos meus dedos tornos, dos meus desejos tortos e de todas as outras torturas. Vamos viver esse exato instante em que te digo. Vamos fingir que já nem precisamos do amanhã. Me prometa o futuro mais improvável, só pra eu acreditar.