terça-feira, 17 de abril de 2012

DIÁLOGOS MUDOS


Você chega, pula duas ou três cadeiras e se senta. Você me pergunta um “tudo bem?” muito casual. E eu respondo que sim, mesmo que por dentro eu seja pura tempestade. Digo “sim” porque já é automático. Minha vontade era te contar tudo e tentar explicar o que eu também não entendo. Mas essa formalidade toda me barra. E fico me ponderando de um modo quase violento. E, se te devolvo a pergunta com um “e você?”, já sei a resposta de cor. “Eu também”. Mas não consigo acreditar que a gente consiga viver assim tão bem sem amor.

No outro dia, sou eu quem pula as duas cadeiras na hora de se sentar. Já aprendi que deve ser assim. Falamos sobre tudo e não dizemos nada. Escolhemos palavras minuciosamente de modo a revelar o menos possível. Eu não quero te amar. E você não precisa gostar tanto de mim. Só precisamos da simpatia. É assim? Você me esbarra e pede desculpas. Mas isso significa tão pouco! Queria te dizer que esbarrar em mim não é um problema grave, mas me limito a dizer “tudo bem”.  Já aprendi que deve ser assim.
Não passamos disso. De você, sei pouco além do nome. De mim, talvez só se saiba o que está escrito. Melhor assim. Eu não gaguejo e você não me sabe. Eu não te entendo e a gente se aceita. Sem brigar.