terça-feira, 24 de abril de 2012

QUANDO A POESIA COMEÇA A RIMAR



Amar deixa saudade.

Porque é assim. Tão simples, e ao mesmo tempo profundamente desesperador. O coração disparado, descompassado e totalmente irracional. O coração batendo no peito, na mão, na boca e no corpo todo. O sangue pulsando, pressionando, esmagando as veias e artérias e o corpo todo. E os minutos curiosamente desfigurados: tão longos na ausência e tão curtos na presença. E o tempo ameaçando parar. E o resto do mundo tão pouco importante. Danem-se as recomendações de cautela e calma e um passo de cada vez. Danem-se todos os passos do manual de sobrevivência. Viver basta.

É assim. A razão em outro continente sem dar notícias. E a emoção tão maior que nós. E os nós frouxos, quase desatados. E as mãos unidas, preenchendo lacunas e examinando destinos. O tato, o olfato e todos os outros sentidos. Os olhos, os olhares e todos os outros desafios. Os braços, os abraços e o espaço nulo entre os corpos. E os tantos jeitos de dizer uma palavra só. E toda a pressa pelo próximo segundo ou fração de segundo que está por vir. E todas as músicas fazendo tanto sentido. E cada mínimo detalhe como parte de uma história que definitivamente não pode ser por acaso. E todas as barreiras, antes intransponíveis, parecendo tão insignificantes. E tudo, de repente, mudando de dimensão de um modo tão poético e impreciso. E essa imprecisão quase que nos deixando fora de foco.

É que esse ato de redimensionar a vida nos marca e deixa saudade. Depois do amor, toda a poesia parece rimar.