quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PELE, INSTINTO E POESIA

“Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida”

Vambora – Adriana Calcanhoto




Vem, seja você quem for. Vem, porque é por você que eu espero. Mas não peça licença, não bata na porta, não marque encontro comigo. Apareça quando eu estiver desprevenida. Seja diferente do princípio ao fim. Não me olhe como os outros. Me olhe como se nosso caso precedesse nosso encontro. Me olhe nos olhos antes mesmo de saber meu nome. Chegue perto e me livre dessa ordem que me aprisiona. Estou aqui, inteira e pronta e intensa, e me permito ser desnorteada. Peço pra ser desnorteada. Apareça e mude tudo de lugar. Seja minha insônia, minha loucura, meu descompasso e, sobretudo, minha liberdade. Seja tudo, menos o refrão que eu sei de cor. Seja a nota do contratempo. Me surpreenda, por favor, me surpreenda. Não me traga rosas e nem chocolates. Diga que me ama de mil outras maneiras. Venha antes da hora marcada e me pegue no colo de cabelo molhado. Me faça esquecer a rima, a regra e o verso. Vem sem protocolos. Segure meu braço de um jeito que me dê a certeza absoluta de que é você. E me olhe demorado. Silencie todos os meus receios. Me mostre o labirinto pra eu abandonar de vez a estrada em linha reta. Acenda o que em mim houver de melhor e de pior. E quando eu mostrar as pedras na mão, só me fale de amor. Cale a minha voz com sua boca. Encoste em mim de um jeito novo ao som de discos velhos. Acalme minha inquietude com seu corpo. Sejamos pele, instinto e poesia. E me envolva com seus braços como se o resto fosse realmente apenas o resto. Deixe que eu encontre todas as rotas possíveis dentro do seu abraço. Mas, antes de mais nada, entre por essa porta e diga que me adora.