Você
não foi, como no fundo eu já imaginava. Minha alma pesada e meu coração sem
vergonha já te esperaram bem mais do que deveriam. Até o último segundo eu te
imaginei entrando por aquela porta e dizendo que é muito feio não dar ouvidos
ao coração. Eu sei, você não diria com essas palavras. Na última semana, listei
todas as possíveis palavras que você usaria para dizer isso e defini qual seria
minha resposta para cada possibilidade. Rasgo agora a minha lista imaginária, frustrada
por você ter contrariado o roteiro que eu planejei com mais amor do que cabe em
mim. É ridículo, eu sei.
No
fundo, tudo isso é só porque eu queria te dizer que eu fui. Eu fui porque meu
narrador interior insistente me dizia que você iria, me pegaria pelo braço e me
levaria para qualquer outro lugar. Hoje o que me consola e ao mesmo tempo me
apavora é saber que tudo isso vai passar. E que nem sequer vai demorar muito.
Duas semanas? Um mês? Só até que a próxima pessoa entre por aquela porta, a mesma
pela qual hoje você simplesmente não passou, e me pareça diferente de todas as
outras pessoas que passam pra lá e pra cá em um outro ritmo. Não é triste tudo
isso?
Não,
você não deve achar nada disso triste. Eu sei lá o que você acha, na verdade.
Eu sei lá se você ainda lê o que eu escrevo. Já não sei a quantas anda seu
coração.
Amanhã
eu vou sentir uma ressaca imensa, vou chorar um pouquinho e vou escrever mais
um ou dois textos sobre você. Mas a angústia apertada por você não ter ido vai
se repetir em mim até que eu me convença de que não era mesmo pra você ir. E,
daí em diante, eu já posso escrever outras cartas de amor...