quarta-feira, 7 de setembro de 2011

EM PLENO SÉCULO XXI

* ilustração por Felipe Sakae 

"São tempos difíceis para os sonhadores.” - Amélie Poulain

Nos dias de hoje, sonhar não é tarefa das mais fáceis. As pessoas mais contemporâneas têm seus sonhos expostos em vitrines e seus maiores desejos fantasiados de gente bonita na televisão. As setas apontam para alvos palpáveis que desabilitam o nosso lado imaginário, inventivo, introspectivo, abstrato. As metas estão todas em liquidação. O preço do sentimento caiu tanto que se tornou enganosamente acessível. No final das contas, estamos atolados de dívidas de todas as espécies.

Aproveitar a vida se transformou no discurso dos superficiais. Felicidade virou sinônimo de uma diversão alienada, desentendida e efêmera. Pensar é pra poucos.

Carpe diem caiu na boca do povo e se tornou expressão banal. As palavras mais profundas já têm tido seus significados distorcidos. Muito se diz sobre o que é amar, mas poucas coisas são, de fato, feitas por amor.

A vida das pessoas está escancarada nas comédias românticas dos Estados Unidos e nos livros de autoajuda que revelam “como conquistar um homem”, “como ter sucesso”, “como ser feliz”. Todos fazem de tudo pra seguir, passo a passo, as dicas infalíveis.

Nesse contexto, quem espera um pouco mais de um sábado à noite ou exige algo além de contato físico é definitivamente cafona. Desejar mudanças está fora de moda. Não, não é fácil ser um sonhador em pleno século XXI.