* ilustração por Felipe Sakae
"São
tempos difíceis para os sonhadores.” - Amélie Poulain
Nos dias de hoje,
sonhar não é tarefa das mais fáceis. As pessoas mais contemporâneas têm seus
sonhos expostos em vitrines e seus maiores desejos fantasiados de gente bonita
na televisão. As setas apontam para alvos palpáveis que desabilitam o nosso
lado imaginário, inventivo, introspectivo, abstrato. As metas estão todas em
liquidação. O preço do sentimento caiu tanto que se tornou enganosamente
acessível. No final das contas, estamos atolados de dívidas de todas as espécies.
Aproveitar a vida se
transformou no discurso dos superficiais. Felicidade virou sinônimo de uma
diversão alienada, desentendida e efêmera. Pensar é pra poucos.
Carpe
diem caiu na boca do
povo e se tornou expressão banal. As palavras mais profundas já têm tido seus
significados distorcidos. Muito se diz sobre o que é amar, mas poucas coisas
são, de fato, feitas por amor.
A vida das pessoas está
escancarada nas comédias românticas dos Estados Unidos e nos livros de
autoajuda que revelam “como conquistar um homem”, “como ter sucesso”, “como ser
feliz”. Todos fazem de tudo pra seguir, passo a passo, as dicas infalíveis.
Nesse contexto, quem
espera um pouco mais de um sábado à noite ou exige algo além de contato físico
é definitivamente cafona. Desejar mudanças está fora de moda. Não, não é fácil
ser um sonhador em pleno século XXI.